Grande Poeta:
Em primeiro lugar, parabéns pelo convite.
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Também não entendi quando você diz que a poesia não tem a mesma força.
Eu não sei se é no sentido de ter importância, motivação, inspiração ou se você teria mudado a sua relação com a poesia.
Quanto ao mês de março não entendi se eles querem traduzir seus livros, publicar poemas antigos, mas inéditos ou o mais provável, se eles querem que você escreva para eles.
De qualquer forma, entendo que você deve estar afastado da poesia.
Bem, a última questão que você colocou resume o que eu vou dizer.
Meu irmão a poesia é sempre um desafio, um “desafio de repente”, até mesmo escrever este texto agora para você já é um desafio, mas felizmente ou infelizmente ninguém deixa de ser poeta, talvez sejamos como alcoólatras, incuráveis independente de beber ou não.
Posso assegurar que se você se propor a escrever este livro, você será bem sucedido.
Talvez você não se de conta, mas existe uma energia criadora muito grande em nós e que se manifesta quando começamos a escrever um poema. Maiakovsk disse que “ a poesia é uma viagem ao desconhecido” e realmente não sabemos o que vai ser de um poema quando iniciamos a escrevê-lo. Mas o sucesso independe de qualquer fator antecipado. A gente só sabe se vai dar certo depois que começa. Mas a probabilidade de dar certo é muito maior, principalmente tratando-se de um poeta como você. Quanto ao tempo, você pode tentar negociar este prazo, mudando de março para Maio ou outro mês qualquer.
Fernando Pessoa disse que o poeta é um fingidor, que finge tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.
Escrever é fingir. A diferença é que se finge uma coisa que realmente se sente. Então por que se finge se é verdade?
Porque na hora em que escrevemos não podemos sentir plenamente. E por que não? Por dois motivos, primeiro porque iría tirar a sobriedade do poema ficaria uma coisa desorganizada e não cumpriria seu objetivo. Segundo porque ninguém sente na hora que quer, ninguém sente vinte quatro horas por dia. Mas considero o fator principal o fato de realmente sentirmos. Em qualquer outra arte poder-se-ia estar apenas fingindo, mas não no poema.
Então temos duas tarefas uma a de sentir, que é uma tarefa automática, e a outra a de escrever (fingir).
Paradoxalmente se o objetivo da poesia é fazer com que os outros sintam o que queremos transmitir, ou seja, traduzir um sentimento, provocar uma comoção; se você estiver sentindo plenamente na hora de escrever você não consegue fazer esta tradução, você não consegue encontrar as palavras. Concluindo: para transmitir um sentimento você não pode senti-lo, pelo menos no momento da transmissão.
É interessante lembrar que o poema busca o caminho do sentimento. O poema que traduzisse exatamente o que o poeta sentiu, seria o poema perfeito. Mas o poema se perde e quanto, mas se perde mais bonito é; O sentimento é sublime o ato de escrever é trazer esta forma pura, para um mundo impuro. É transformar uma coisa perfeita de um mundo de possibilidades infinitas que é o pensamento humano, para a condição impura e limitada de uma linguagem inteligível. Taí o desafio do poeta: compensar esta possível perda.
Meu amigo: aceite o desafio, “capoeira”, “escape intacto”. Se escrever não é fácil, também não é fácil sentir. Sentir sem escrever não é nada se comparado a escrever sem sentir.
Nós temos essa missão e não devemos fugir a esta responsabilidade. Temos a nossa tarefa neste planeta. Quando inventaram os pedreiros, os médicos, os soldados, também inventaram os poetas, temos que fazer a nossa parte, e os poemas que você deixar de escrever jamais serão escritos, ninguém poderá escrevê-los, só você pode fazê-lo.
Resgate-nos.
José Terra
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